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Sobre Psicanálise

Desde os primórdios a psicanálise tece críticas (e evita) todo e qualquer ideário de normatização – estar a serviço de uma adaptação dos cidadãos à ordem dominante. “Você consegue”, “você alcança”, “você pode” – dentre tantos outros “verbetes” nada mais são discursos que reforçam um “ideal” que adoece.

Freud constituíra-se no inicio do século XX no paladino de um ideal de emancipação fundado na reforma dos costumes e na descriminalização de todas as variantes da sexualidade. Criticava a moral sexual “civilizada” e a comparava a uma doença nervosa. (ROUDINESCO, 2019)

Lacan, tomando o estruturalismo como referência, evidencia que o sujeito é uma construção ideológica, uma ilusão metafísica, já que, em última instância, ele não seria agente, mas apenas suporte de estruturas que agem em seu lugar. Os sujeitos não falam, mas são falados pela linguagem; não agem, mas são agidos pelas estruturas sociais. Nessa linha, o que estaria sempre em pauta seria a constituição de um operador que pudesse empreender a ruptura com a alienação. Paradoxalmente, seria a dissolução das coordenadas da alienação o que possibilitaria a ação efetiva do operador da ruptura. A eficácia do ato psicanalítico estaria aqui. (SAFATLE, 2020)

Dessa forma, a psicanálise não seria uma prática terapêutica no sentido estrito, pois não poderia ser normativa, mas uma crítica sistemática e insistente da medicalização do mal-estar, já que as modalidades de adaptação promovidas pela modernidade seriam efetivamente alienantes.

Fabricio Tavares – Psicanalista

Referências

ROUDINESCO, E. Dicionário amoroso da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.

SAFATLE, V. Introdução a Jacques Lacan. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. 

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