Recomeços

Recomeçar é sempre acompanhado de esperança, envolto na bolha do otimismo. Recomeçar parece transbordar alívio.

“Finalmente consegui abandonar o que me machucou!”

Será que é assim mesmo, uma decisão simples? “Vou recomeçar e está tudo certo?”

– Não é.

Recomeçar é um ato de coragem de quem enfrentou abandonos e perdas, sentimento que surge da necessidade de mudar. Recomeços são carregados de novas obrigações, muitas expectativas, promessas para nós mesmos e para aquilo que os outros esperam de nós.

Recomeçar dói. Exige muito de todos os seres humanos. Antes de qualquer recomeço dialogamos muito com os nossos desesperos e frustrações.

A necessidade de recomeçar não deve ter como objetivo o desejo de fuga de determinada situação. É preciso elaborar sobre os motivos que envolve o recomeçar ou lá na frente você vai encontrar-se tendo as mesmas atitudes, enfrentando os mesmos sofrimentos, com personagens diferentes em situações iguais, preso em um ciclo vicioso não produtivo de recomeços.

Como elaborar um bom recomeço e escapar de ciclos viciosos?

Não vem com manual de instruções. Não deve ser algo automático. Não é “virando uma chave”.

Recomeçar não é sobre fuga ou abandono, mas sim sobre decisão.

Recomeçar requer dedicação e honestidade com quem você é, envolve motivos, desejos e perdão, não é um caminho fácil.

A psicanálise é uma alternativa de suporte para essa caminhada. Psicanálise é sobre autonomia e autoconhecimento. Ela não vai te vender um recomeço feliz e indolor, mas sim oferecer uma possibilidade de fazer aquilo que você diariamente não faz; escutar o que geralmente não escuta; nomear sentimentos que na grande maioria das vezes você não nomeia; libertar-se do outro e assumir a responsabilidade do que é seu, tanto em escolhas como no sentir.

Psicanálise envolve recomeçar escutando a parte mais interessada na mudança: você mesmo, recomeçando da maneira mais assertiva, pelo lado de dentro.

Carina Fernandes Camacho.
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